A receita para a Europa voltar a ser competitiva: um Plano Marshall turbinado

Em julho de 2012, o italiano Mario Draghi, então presidente do Banco Central Europeu, fez um discurso histórico no qual afirmou que faria ‘o que fosse necessário’ – whatever it takes – para superar a crise do endividamento nos países do sul.

Doze anos depois, ‘Super Mario’ ataca novamente.

Draghi apresentou hoje o relatório The Future of European Competitiveness Report, um documento encomendado pela recém-reeleita presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leynen,  para identificar as causas da tendência de queda no desempenho econômico dos países do bloco e indicar saídas para destravar o crescimento e a inovação tecnológica – reduzindo o gap em relação aos EUA e à China.

A lista de recomendações inclui a redução da burocracia, regras antitruste mais flexíveis para permitir a consolidação em áreas como a tecnologia da informação, unificar as políticas e os contratos públicos em segurança, energia e infraestrutura, e reduzir a dependência em relação a países como a Rússia, China e até mesmo os EUA.

Segundo Draghi, as políticas dos países europeus parecem “pequenas” e “inadequadas” diante dos desafios.

Draghi diz que a Europa precisa aumentar os seus investimentos em € 800 bilhões por ano.

“Para digitalizar e descarbonizar a economia e aumentar nossa capacidade defensiva, os investimentos terão que aumentar ao redor de 5 pontos do PIB e ir a níveis não vistos desde dos anos 60 e 70,” afirma Draghi.

“Isso é algo sem precedentes,” diz. “O investimento adicional ocorrido durante o Plano Marshall, entre 1948 e 1951, ficou entre 1% e 2% do PIB.”

O relatório afirma que “um grande gap” se abriu nos últimos anos em relação ao desempenho dos EUA – e a principal razão foi a desaceleração da produtividade na UE.

“Em termos per capita, a renda disponível cresceu quase duas vezes mais nos EUA do que na Europa desde o ano 2000,” afirma o texto.

Segundo Draghi, em tempos de “geopolítica estável” foi possível reduzir os gastos em defesa para investir em outras áreas. A região também se beneficiou da fase de expansão do comércio global, “mas essas premissas agora estão abaladas.”

A Europa perdeu abruptamente o seu mais importante fornecedor de energia, a Rússia. “De repente, a estabilidade geopolítica está diminuindo – e nossas dependências se tornaram nossas vulnerabilidades,” comenta o ex-premiê italiano.

Ainda segundo Draghi, o atraso da Europa em relação aos EUA se deve essencialmente ao fato de a região ter ficado para trás nos desenvolvimento de novas tecnologias.

“Apenas quatro das 50 maiores techs são europeias,” diz o relatório.

Draghi lembra que a força de trabalho da região vai entrar em declínio, e o crescimento dependerá dos ganhos de produtividade.

Sem ganhos de produtividade, diz Draghi, os países da região terão que, a cada dia mais, fazer escolhas.

A União Europeia fatalmente verá uma queda em seu padrão de vida, alerta ele, e o bloco terá que “reduzir algumas, ou talvez todas, as suas ambições.”

“Não teremos a capacidade de sermos, ao mesmo tempo, líderes em novas tecnologias, uma referência em responsabilidade climática e um player independente no palco global,” diz ele.

Se esse não for o caso, afirma Draghi, a União Europeia perderá sua “razão de existir.”

Por quê?

“Os valores fundamentais da Europa são prosperidade, equidade, liberdade, paz e democracia em um ambiente sustentável,” escreve Draghi. “A UE existe para que os europeus possam se beneficiar desses direitos fundamentais. Se a Europa não conseguir provê-los – ou tiver que escolher entre eles – ela terá perdido a sua razão de existir.

O único caminho, afirma, é “crescermos e sermos mais produtivos, preservando nossos valores de equidade e inclusão social. E o único caminho para a Europa ser mais produtiva é mudar radicalmente.”

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