‘Modelo Modi’ fica mais 5 anos – mas dependerá de alianças

Contrariando as previsões de uma reeleição tranquila, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, não conseguiu uma maioria absoluta nas urnas – e precisará negociar o apoio de partidos aliados para formar um novo governo e continuar no poder por mais cinco anos. 

O resultado arranhou a aura de invencibilidade de Modi, o popular comandante do país há 10 anos e tido como principal responsável por ter transformado a economia em uma das mais dinâmicas do mundo. 

O rápido crescimento, entretanto, não aplacou a crescente insatisfação de alguns grupos de eleitores, principalmente em regiões no coração rural da Índia. 

O resultado das urnas surpreendeu os analistas políticos e financeiros, derrubando as ações indianas no pregão de hoje – sobretudo a de grupos controlados por bilionários próximos a Modi.  

Foi uma reversão do que foi visto nos mercados na segunda-feira, quando a Bolsa de Mumbai tinha atingido sua máxima histórica porque as projeções iniciais indicavam uma vitória clara de Modi, reforçando o cenário de continuidade na política econômica focada em grandes investimentos. 

Mas ao longo do dia, com o avanço da apuração eleitoral, a história se mostrou outra. Os resultados do partido de Modi vieram aquém do estimado, e o principal índice de Mumbai mergulhou 6%. 

As empresas controladas por Gautam Adani, muitas delas beneficiadas pelos projetos de infraestrutura de Modi, devolveram as expressivas valorizações que haviam obtido ontem e desabaram cerca de 20%. 

O índice Nifty50, com as maiores empresas do país e que representa 60% do free float local, perdeu toda a valorização acumulada ao longo do ano. Em 12 meses, porém, ainda sobe 18%. 

O partido de Modi, o Bharatiya Janata Party (BJP), esperava conquistar ao redor de 400 cadeiras da Lok Sabha, a Câmara baixa. Mas as projeções mostram que deverá eleger aproximadamente 240 parlamentares, um número inferior aos 272 necessários – do total de 543 lugares – para constituir uma maioria mínima para comandar o país sem a necessidade de alianças. 

Modi chegou ao poder em 2014 e se reelegeu em 2019, quando o BJP elegeu 303 parlamentares. Somando os votos de partidos aliados, conquistou 352 cadeiras naquela eleição. 

Agora, o BJP sai enfraquecido, mas continua sendo a maior força política do país. Deverá ter 292 representantes na Câmara, somando os votos aliados. 

A coalizão liderada pelo partido oposicionista India National Congress poderá chegar a 234 cadeiras, conquistando mais de 140 novos postos em relação à configuração atual. 

Do total de 1 bilhão de eleitores registrados, 642 milhões votaram. 

O resultado mais frustrante do BJP foi no estado de Uttar Pradesh, na região norte. Há cinco anos, o partido elegeu ali 62 representantes dos 80 possíveis. Agora o número deve recuar para 35, diante da perda de votos para o esquerdista Samajwadi, um partido que representa castas menos favorecidas e minorias religiosas. 

Modi perdeu muitos votos também em Maharashtra, o estado cuja capital é Mumbai, o centro econômico e financeiro do país. Lá o Congress vai dobrar o número de representantes eleitos. 

No total de votos nacionais, o BJP de Modi, na verdade, ampliou sua participação de 37% para 39%. Mas o partido se enfraqueceu em regiões estratégicas, elegendo menos representantes parlamentares. 

Entre alguns grupos de eleitores pesou o temor de perda de direitos e da redução de políticas afirmativas, de acordo com analistas. 

“A oposição se aproveitou desses receios, enfatizando a proximidade de Modi com oligarcas e afirmando que o BJP deverá derrubar proteções constitucionais a favor dos grupos de castas inferiores e minorias religiosas,” disse a Economist. “O apelo pessoal de todo-poderoso do primeiro-ministro se debilitou e foi incapaz de superar essas preocupações.” 

No jogo parlamentar, Modi – que vem exercendo o poder de maneira centralizadora e por vezes autoritária – precisará ceder espaço aos aliados para perseguir  sua agenda de transformar a Índia na terceira maior potência econômica do planeta. 

A reação negativa dos investidores se deve, em boa parte, ao receio de que a formação do novo governo afete o já delicado equilíbrio macroeconômico da Índia, como por exemplo com o aumento de gastos em benefícios e subsídios. 

O déficit fiscal indiano tem se mantido ao redor de 6% do PIB. O endividamento público é de 82% do PIB, com tendência de ligeira alta. 

Num relatório publicado hoje, a Goldman Sachs diz não acreditar em uma reversão de rota na economia, com o governo mantendo a trajetória de controle do déficit, ainda que parte dos gastos deva ser remanejada para acomodar um aumento nos programas sociais. 

“A Índia obteve grandes avanços na conquista da estabilidade macro nos últimos anos, graças a uma redução do déficit na conta corrente, inflação dentro da meta e controle do déficit fiscal,” disse a Goldman. “Mesmo com uma maioria reduzida (na Câmara), não acreditamos que a estabilidade macro será comprometida.” 

Na segunda-feira, antes dos resultados eleitorais, analistas do Bank of America escreveram que a Índia continua bem-posicionada para manter um ritmo acelerado de crescimento.

“O apoio do governo, a crescente facilidade de fazer negócios, melhores leis trabalhistas devem fazer da Índia um parceiro comercial confiável – tanto um hub de exportações e como mercado consumidor,” disse o banco.

Segundo o BofA, o objetivo do governo é que o valor total de produtos industrializados exportados atinja US$ 1 trilhão até 2028, o que representaria um crescimento médio de 17% nas vendas internacionais entre 2023 e 2028.

As metas são elevadas e não devem ser alcançadas, reconhece o BofA, mas o mais relevante é o direcionamento a favor de políticas que enfrentem os gargalos produtivos.

A ambição de Modi, ao menos no discurso político, é fazer da Índia um país desenvolvido até 2047, o centenário de sua Independência. 

Mesmo com anos seguidos de crescimento acelerado, acima de 6% ano ano, os indianos ainda possuem um PIB per capita de pouco mais de US$ 2.000 – menos de um quarto do PIB per capita brasileiro, de pouco menos de US$ 9.000. 

Os países desenvolvidos mais pobres têm PIB per capita acima de US$ 20.000.

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