Que fim levou o Rapidshare, clássico site para baixar arquivos de graça?

Se atualmente é possível obter arquivos por meio de tecnologias como torrent, streaming e plataformas de armazenamento como o Google Drive, essa tarefa já foi bem diferente. Durante anos, sites de hospedagem eram os meios favoritos para troca de arquivos.

Essa prática, muito usada na pirataria de músicas, filmes, séries, animes, jogos e outros produtos digitais, consagrou inclusive no Brasil nomes como o Rapidshare. Por alguns anos e mesmo com várias limitações, ele foi um dos sites favoritos do público nesse segmento.

Mas você sabe o que aconteceu com essa página que hoje, apesar de desbloquear memórias em muita gente, é totalmente desconhecido de uma geração? A seguir, relembre e entenda qual foi o destino dessa página tão popular.

O início de um ícone

O Rapidshare nasce oficialmente em 2004 na Alemanha e, até por isso, seu domínio mais famoso neste início foi RapidShare.de.

O serviço é uma criação de Christian Alexander Schmid, que na época tinha 25 anos e era o responsável pelo RapidForum, o maior serviço de hospedagem de fóruns da Alemanha e que já existia anos antes. Neste ano, ele começa a operar um serviço de compartilhamento de arquivos desses fóruns, mas depois expande ele também para usuários externos.

Inicialmente, ele operava sob o nome de ezShare e, segundo o empresário, foi criado após uma única noite de planejamento e execução. Dois anos depois, o agora Rapidshare move a administração para a Suíça, onde o fundador passa a residir.

Junto de Schmid estava Bobby Chang, sócio que foi CEO e COO da operação. Antes, ele trabalhava no setor de telecomunicações e deixou o Rapidshare só em 2010.

O primeiro design do site. (Imagem: Reprodução/Rapidshare)

O sucesso desse empreendimento é comprovado pela popularidade em acessos. Ele chegou a ser um dos 20 sites mais visitados da internet global e o terceiro maior serviço de compartilhamento de arquivos da internet — sendo que tecnicamente ocupava a vice-liderança, já que perdia para o Megavideo e o Megaupload, ambos parte de um mesmo grupo.

O site foi um dos pioneiros no setor crescente de hospedagem de arquivos, que oferecia enorme facilidade tanto para armazenar arquivos e disponibilizar um link para download quanto para baixar — praticamente tudo a um clique de distância.

O Rapidshare sempre foi conhecido por deixar o download bastante lento de propósito, além de oferecer limitações no uso gratuito: eram só 200 MB e dez downloads liberados por link criado.

As opções de download: a forma gratuita e a paga. (Imagem: Reprodução/Analistas de Suporte)

A ideia era fornecer uma conta paga mediante assinatura para os usuários, que garantia uma velocidade mais rápida de download e mais espaço de armazenamento. No início, ela custava cinco euros e permitia baixar arquivos de até 5 GB.

Auge e primeiros problemas com pirataria

A segunda metade dos anos 2000 e começo da década de 2010 foi auge do Rapidshare em popularidade, apesar da concorrência com plataformas parecidas — caso do 4shared, do Mediafire e do já citado Megaupload, sem contar programas como o LimeWire.

A empresa chegou a ter uma grande sede na Suíça. (Imagem: Schulerst/Wikimedia Commons)

No início de 2010, o site armazenava 150 milhões de arquivos, tinha 50 funcionários e hospedava diariamente 500 mil novos arquivos nos servidores. E tudo isso enquanto Schmid era bastante discreto, sem aparecer em eventos ou até dar entrevistas.

Neste mesmo ano, assim como aconteceu com várias outras plataformas, começa a avalanche de processos por infração de direitos autorais por parte de gravadoras e estúdios. Porém, o serviço conseguiu se manter por mais um tempo no ar graças a uma série de fatores:

O argumento de que o Rapidshare não controlava que tipo de arquivo era disponibilizado e nem se anunciava como algo focado em pirataria prevalecia nas primeiras ações judiciais;A empresa iniciou uma série de ações para tentar ao máximo se distanciar do compartilhamento ilegal, incluindo um lobby intenso nos Estados Unidos;A plataforma tinha ou foi implementando uma série de recursos antipirataria, incluindo responder notificações por direito autoral com rapidez e suspensão das contas consideradas ilegais, além de limitar a quantidade de downloads por arquivo;O Rapidshare também se “salvava” de algumas acusações por não contar com um programa de parcerias e bonificações. Isso significa que a pessoa que disponibilizava o arquivo não tinha benefícios no serviço ou até em remuneração.

Tudo começa a mudar no começo de 2012, quando uma ação do FBI resultou no fechamento do Megaupload e na prisão do fundador do site, Kim Dotcom, pela violação constante de direitos autorais.

Outras plataformas parecidas entraram em alerta pela ameaça de um destino parecido, mas novamente o Rapidshare sorriu aliviado: neste ano, um tribunal na Alemanha declarou que o site na verdade estava operando de forma lícita no país após processo de um grupo de gravadoras.

Neste período, Schmid já tinha deixado o seu último cargo na empresa, que era o de presidente do conselho. A nova CEO era Alexandra Zwingli, encarregada de uma nova fase na empresa.

Agora, ela só precisaria monitorar sites externos que poderiam levar o usuário a arquivos piratas hospedados. Porém, toda essa estratégia não conseguiria segurar a pressão de tantos governos e corporações.

O que aconteceu com o Rapidshare?

No começo de 2013, o Rapidshare já havia perdido boa parte da popularidade e receita, além dos gastos cada vez maiores para se defender judicialmente. A companhia faz então uma demissão em massa, ficando com apenas 25% da equipe.

O ano seguinte tem outra notícia ruim: o fim do uso gratuito, o corte do plano pago de espaço ilimitado e o estabelecimento de planos bem caros, sem chance contra concorrentes já consagradas no período, como o Dropbox.

A ideia era legalizar os serviços ao máximo e se inspirar nesse tipo de ferramenta usada para guardar arquivos pessoais e profissionais. Porém, ele não teve chances contra os rivais e parecia saber disso, já que dispensou quase todos os poucos funcionários ainda restantes.

Em fevereiro de 2015, mesmo com a má fase constante, um comunicado oficial do site surpreendeu parte da comunidade. Repentinamente, o Rapidshare anunciou que encerraria em breve as atividades.

O dia 31 de março daquele ano foi escolhido como a data limite de funcionamento da página. Depois dele, todas as contas deixaram de funcionar e tiveram todo o conteúdo apagado.

O aviso no site meses após o encerramento do serviço. (Imagem: Reprodução/Rapidshare)

Schmid não teve grandes problemas como ter que pagar indenizações, assim como alguns rivais da época. Com uma fortuna acumulada no período de Rapidshare, ele até se tornou dono em 2019 do Schloss Eugensberg, um castelo na Suíça que tem com a família de Napoleão.

A história, porém, se prolonga por mais alguns anos. Só em 2021 a última ação de infração de direitos autorais é julgada na Suíça, com os responsáveis pelo site sendo inocentados. Depois dessa notícia, a vida do empresário volta a ser discreta, com o legado do Rapidshare cada vez mais apagado.

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