Uma startup de inteligência artificial (IA) chefiada por um ex-ator do Disney Channel despertou debates acalorados em redes sociais como o X. Isso porque um dos possíveis usos do serviço da 2Wai é “manter vivos” até mesmo parentes que já faleceram.
A companhia promete a criação de avatares digitais que replicam a aparência, gestos, voz e personalidade de outras pessoas. Isso pode ser feito para gerar chatbots de profissionais de áreas como gastronomia e educação física, mas também serve como uma espécie de memória permanente de quem já conviveu com você.
De acordo com o site do projeto, a ideia é ser um “arquivo vivo da humanidade“. No vídeo que mais viralizou, uma mulher aparece interagindo com o avatar de uma senhora idosa no celular. Mais tarde, o clipe revela que aquela era a mãe da personagem, que faleceu e ainda em vida teve os movimentos capturados pela IA da 2Wai.
What if the loved ones we’ve lost could be part of our future? pic.twitter.com/oFBGekVo1R
— Calum Worthy (@CalumWorthy) November 11, 2025
Dessa forma, tanto ela quanto o filho podem interagir quando quiserem com o avatar de IA que mantém a mesma aparência da avó — seja pedindo conselhos ou apenas comentando sobre o que aconteceu durante o dia.
Como a 2Wai cria avatares de IA
A tecnologia por trás da 2Wai se chama HoloAvatar e um dos cofundades da startup é Calum Worthy. O ator foi uma das estrelas do seriado Austin & Ally do Disney Channel, além de ter participações pequenas em programas como Supernatural e Smallville.
O serviço está disponível por enquanto apenas em um aplicativo para iOS, com a versão para Android ainda em desenvolvimento;Por enquanto, o uso da ferramenta é gratuito por ele estar em fase de testes, mas é possível que ele seja colocado por trás de uma assinatura no futuro;Exemplos de avatares profissionais disponíveis para conversa imediata incluem escritores, coaches, cozinheiros, astrólogos e um personal trainer;Exemplos de avatares digitais profissionais. (Imagem: Divulgação/2wai)Se você preferir, pode fazer a captura da aparência, voz e movimentos de qualquer pessoa, incluindo você mesmo ou seus amigos e parentes. Para isso, basta seguir as instruções do app, que envolvem cerca de 3 minutos de gravação sob posições específicas para o registro da câmera;Outra aplicação possível do HoloAvatar citada pela companhia é ser usado como um tradutor em conversas ou até para representar celebridades na interação com fãs;
A startup até agora já conseguiu ao menos US$ 5 milhões em financiamento e já possui projetos com empresas como IBM e a operadora British Telecom. Além disso, ela diz que “milhares de pessoas” criaram um avatar próprio só no último fim de semana, o que até aumentou o tempo de espera no processamento do material.
Críticas e comparação até com Black Mirror
A divulgação dos materiais publicitários da 2Wai renderam dois tipos de reação. De um lado, há que aplaude a tecnologia pela inovação e preservação de memórias. Do outro, que parece mais volumoso, são muitas as preocupações por vários elementos envolvendo o projeto.
Um deles diz respeito à viabilidade do serviço. No site da 2Wai, não há qualquer informação a respeito da tecnologia que é utilizada na criação dos avatares virtuais, como o modelo de linguagem adotado ou como será a monetização.
Além disso, faltam garantias de segurança sobre como os materiais capturados de outras pessoas serão armazenados nos servidores da companhia. A única menção sobre proteção no site é sobre o FedBrain, uma ferramenta que impede interações usando linguagem ofensiva pelos avatares ou usuários.
Outro ponto envolve a qualidade dos avatares: no material publicitário, a conversa parece fluída e natural, enquanto outras interações que parecem extraídas do aplicativo de verdade (como a solicitação de ajuda ao chef de cozinha) já mostram uma fala truncada e claramente artificial.
A maior parte dos comentários, porém, envolve o vídeo que mostra a criação de um avatar baseado em um parente para que ele “faça parte do futuro” mesmo após partir.
Usuários chamam a ideia de cruel, danosa para as pessoas e desumano. “A morte e a perda são partes normais da vida. Ao fazer isso, você está criando adultos dependentes e lobotomizados”, diz um dos posts mais curtidos no X.
Há também muitas comparações com Black Mirror. Na série, há tanto um episódio que mostra exatamente a criação de uma cópia de um ente querido falecido (o episódio ‘Be Right Back’, da segunda temporada) quanto o oferecimento de serviços por assinatura de tudo (‘Common People’, da sétima temporada).
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