No conservador e tradicional mercado da relojoaria de luxo, um new kid on the block está se transformando numa das marcas mais desejadas do setor.
Fundada em 1993 – ou seja, “ontem,” para os padrões suíços – a F.P. Journe virou sinônimo de relógios sofisticados e elegantes e acaba de ganhar as manchetes da imprensa especializada de forma espetacular: um dos primeiros relógios vendidos pela empresa (logo depois de sua fundação) foi leiloado mês passado por nada menos que US$ 8,35 milhões, um dos mais caros de todos os tempos.
O sucesso da marca deve-se à visão de seu fundador, François-Paul Journe, o enfant terrible do mundo da relojoaria. Polêmico e sem papas na língua, Journe é considerado um artista no métier e produz apenas cerca de 800 relógios por ano.
Em comparação, as marcas de maior prestígio do mercado – como Patek Phillipe e Rolex – fabricam respectivamente 70 mil e 1 milhão de unidades a cada 12 meses.
Os preços de um F.P. Journe podem ser, portanto, astronômicos – mas isso não impede que haja uma longa fila de milionários prontos para adquirir o que sai da fábrica.
As razões para todo esse sucesso são muitas: além de serem feitos com materiais extremamente nobres, especialmente ouro rosa, platina e titânio, e trazerem movimentos inovadores, os relógios da marca têm um design ousado e inconfundível, sem perder a elegância e o equilíbrio – todos com o DNA de seu criador e os dizeres “Invenit et Facit” (ou seja, inventado e feito) gravados em seus dials. Bem diferentes dos espalhafatosos Richard Mille, com certeza.
Mas e os preços?
Eles obviamente variam dependendo do modelo. Os mais baratos são os da linha esportiva e informal da marca, a Élégante, que podem ser encontrados abaixo de US$ 40 mil. Feitos em titânio, são surpreendentemente movidos a quartzo (um detalhe importante é que a tecnologia da F.P. Journe faz com que eles funcionem por 18 anos).
A linha média é chamada Classique e custa entre US$ 80 mil e US$ 100 mil. Já os mais caros, como os Tourbillon, têm preços que superam os US$ 350 mil.
O modelo que bateu o recorde no leilão é um Tourbillon Souverain à Remontoire d’Egalité, de 1993. A venda ocorreu na casa de leilões Phillips, em Genebra, e foi feita pelo leiloeiro Aurel Bacs, uma celebridade no mundo dos relógios.
O pregão começou em 1 milhão de francos suíços, mas imediatamente deu um salto surpreendente: “Five million, sir!”, gritou o representante de um dos interessados.
A partir daí, iniciou-se uma acirrada disputa pelo relógio. Vale assistir aqui.
No mercado de leilões, outros relógios já alcançaram preços milionários nos últimos anos. O mais caro de todos foi o Patek Philippe Grandmaster Chime, leiloado na Christie’s por US$ 31,2 milhões, em 2019. Outro destaque foi uma das peças mais famosas do mundo: o Rolex Daytona que pertenceu ao ator Paul Newman, vendido por US$ 17,7 milhões na Phillips, em 2017.
Competindo com casas centenárias, como a Patek Philippe, fundada em 1851, a F.P. Journe é umas das chamadas marcas independentes, surgidas nas últimas décadas e que não pertencem aos grandes grupos globais. Há outras que também se destacam e ainda darão muito o que falar, como Voutilanien, Grönefeld, Rexhep Rexhepi, H. Moser & Cie, Moritz Grossmann, Greubel, e Laurent Ferrier. Também há iniciativas interessantes no Japão, como a Naoya Hida & Co.
Mas para quem ainda não está disposto a gastar US$ 40 mil num relógio e mesmo assim quer ter uma experiência da marca, ainda há esperança.
Discretamente, a F.P Journe abriu um excelente restaurante em plena Rue de Rhône, no centro histórico de Genebra, cercado pelas lojas das principais casas relojoeiras suíças. O Le Restaurant é uma colaboração com o chef Dominique Gauthier, e sua elegante e discreta decoração faz referência à marca. (A casa acaba de ganhar sua primeira estrela Michelin.)
Um detalhe é que lá todos os garçons usam um modelo exclusivo da F.P. Journe, o Élégante “Le Restaurant”, todo em vermelho e infelizmente inacessível aos demais pobres mortais. A única possibilidade de conseguir um exemplar é virar um cliente regular da casa e, quem sabe, convencer François-Paul a abrir uma exceção.
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