Gold Energia negocia solução para evitar default bilionário

A Gold Energia — uma das maiores comercializadoras de energia do Brasil — corre o risco de sofrer um rombo bilionário que pode levá-la a uma recuperação judicial, fontes do setor disseram ao Brazil Journal

Com um faturamento de R$ 30 bilhões/ano, a Gold é uma das cinco maiores empresas do setor, junto a gigantes como a Comerc, que pertence à Vibra, e o Grupo Delta.

A empresa foi fundada há cerca de cinco anos por nove sócios, incluindo James Oliveira e Cassiano Agapito, que lideravam a mesa de trade de energia no BTG. Oliveira também é um dos fundadores da Vinland Capital. 

O problema com a companhia começou nos últimos meses, com a virada brutal no chamado Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que é estabelecido semanalmente pela CCEE com base numa fórmula matemática que usa dados históricos da pluviometria. 

No ano passado, o PLD ficou no piso, perto dos R$ 70/MWh, já que a hidrologia estava boa e não foi preciso acionar as térmicas. A partir de maio deste ano, no entanto, o mercado virou, com o País passando por períodos extremamente secos, o que fez o PLD começar a subir.

Em outubro, o PLD já havia subido para entre R$ 200-300/MWh, quando a Gold resolveu ficar vendida, apostando que as chuvas iam voltar e o preço, cair. 

(Neste tipo de operação, as comercializadoras fecham contratos de venda no preço vigente, para entregar a energia no mês seguinte, apostando que o preço vai cair e que elas vão poder comprar mais barato e ganhar no spread).

O problema é que, em vez de cair, o preço do PLD decolou para mais de R$ 600/MWh.

Segundo fontes do mercado, agora em novembro a Gold fez o movimento oposto, ficando comprada para se proteger, e errando mais uma vez o direcional do mercado, já que o PLD agora caiu para R$ 110.

“Nesse ambiente de altíssima volatilidade, se a empresa está alavancada e erra duas vezes, o rombo vai ser muito grande,” disse o executivo de uma empresa do setor. 

A estimativa do mercado é que a Gold possa dar um default da ordem de R$ 1 bilhão. Esse número vai ficar público no início da semana, já que os contratos do mês anterior sempre precisam ser honrados no oitavo dia útil do mês subsequente. “Na semana que vem teremos a liquidação do mercado de curto prazo de outubro e aí vamos saber com certeza se vai haver um default e o tamanho dele,” disse outro player do setor. 

O que tem circulado no mercado é que as duas maiores contrapartes da Gold são o BTG e o Santander, que certamente conseguiriam absorver as perdas sem grandes turbulências. O problema mesmo será para os players pequenos, que correm o risco de quebrar dependendo do tamanho do prejuízo. 

Segundo uma fonte, a Gold já contratou a Alvarez & Marsal, que está negociando com as contrapartes um haircut da dívida. 

Dependendo do tamanho do haircut, a Gold até pode conseguir arcar com os valores sem precisar dar um default — evitando uma recuperação judicial. O consenso de players do setor, no entanto, é que isso é improvável, dado o tamanho do buraco. 

“Se eu tivesse que apostar, eu diria que vai dar m#$@, que eles não vão conseguir pagar tudo,” disse uma das fontes. “Mas até a liquidação não dá para ter certeza.” 

O problema que a Gold está enfrentando é o mesmo que a Vega Energy sofreu em 2019, e que levou à falência da companhia. Nos últimos meses, outras duas comercializadoras menores — a Máxima e a Mils — também passaram pela mesma situação, errando nas operações e sofrendo perdas relevantes. 

Para um executivo do setor, esse tipo de problema é frequente no mercado livre de energia porque não existe uma clearing. “Não ouvimos falar disso no mercado de ações, de opções ou de dólar porque existe a clearing da B3, que é quem toma o risco da contraparte. Se tiver algum problema, a B3 te paga e vai cobrar da contraparte, e sempre tem garantias,” disse o executivo.

“No nosso mercado todas as transações são bilaterais, temos que sempre aprovar o risco de crédito das contrapartes, o que gera esses problemas.”

Segundo ele, já se tentou criar uma clearing no mercado de energia, mas há dificuldades.

“Num mercado tão volátil, chamar garantias e margens toda hora num volume altíssimo é muito caro para os players. É algo complexo.”

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