Mesmo após o crescimento brutal dos ecommerces chineses, de um inverno mais quente do que a média e das pressões inflacionárias, as varejistas de moda estão consolidando um novo momentum.
C&A e Guararapes divulgaram seus resultados ontem e bateram as expectativas do mercado (que já eram otimistas) – especialmente a varejista comandada por Paulo Corrêa.
A C&A bateu o mercado em todas as linhas, e a Guararapes fez “barba, cabelo e bigode” no terceiro tri.
Mesmo com a expectativa dos analistas de que os resultados fariam as ações dispararem, aconteceu exatamente o oposto.
As ações da Guararapes despencavam 12,9% no fim da tarde, enquanto as da C&A caíam 8%. A Renner, que divulga os seus resultados trimestrais hoje, caía 3,5%.
Para um analista que cobre o setor – que inclusive recebeu ligações de executivos das empresas sem entender o motivo –, trata-se de um movimento técnico de hedge funds, que estão realizando lucro após fortes valorizações recentes.
“É uma antecipação desses fundos, o que é frustrante na cabeça de várias pessoas do setor,” disse esse analista. “Mas vejo os resultados como uma consolidação do movimento positivo e acredito que veremos uma contínua melhora nos próximos trimestres.”
O analista ainda lembra que essa queda foi vista imediatamente após a divulgação dos resultados dos três últimos trimestres da C&A, que depois se recuperou – a empresa ainda acumula uma alta de 119% nos últimos 12 meses.
Todos os analistas elogiaram os resultados da C&A.
A receita líquida da varejista cresceu 16% ano contra ano, para R$ 1,8 bilhão, enquanto o consenso era de R$ 1,74 bilhão. As vendas em mesmas lojas também registraram uma robusta alta de 19%.
“Com esse impulso positivo, as margens brutas também mostraram melhorias sequenciais, apoiadas por um mix de vendas mais robusto, enquanto a empresa apresentou relevante diluição de SG&A”, escreveram os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, do Santander.
Com isso, o EBITDA ajustado subiu para R$ 316 milhões – alta de 55% na comparação anual. O consenso apontava para um EBITDA de R$ 288 milhões.
Mas o bottom line foi a linha que teve o maior ‘beat’: a C&A reverteu um prejuízo de R$ 44 milhões no ano passado para um lucro de R$ 43 milhões – com a ajuda de um benefício fiscal da Lei do Bem.
De qualquer maneira, o mercado esperava “apenas” R$ 14 milhões de ganhos na última linha.
“A C&A superou nossas estimativas e as do consenso pelo sétimo trimestre consecutivo. Isso reforça a tese de que a C&A não está apenas colhendo os benefícios de construir uma área de serviços financeiros do zero, mas também reflete iniciativas estruturais realizadas nos últimos anos”, escreveu o analista do Citi, João Soares.
O C&A Pay foi um dos grandes destaques na visão da XP: enquanto as provisões caíram 33% “devido a carteiras de crédito mais saudáveis e melhores níveis de recuperação”, o C&A Pay teve um resultado positivo de R$ 25 milhões (excluindo custos de financiamento).
Além disso, diz a XP, a C&A tem conseguido abocanhar parte do bolso das classes de renda mais alta – e as lojas high e concept superaram os resultados das lojas pop e superpop.
A XP também vê os resultados melhorando nos próximos trimestres com o projeto Energia C&A, que vem apostando na personalização de cada loja de acordo com o público e também a demanda por determinados produtos.
“O Projeto Dispersão continua em andamento com a primeira onda de lojas (cerca de 25 unidades) apresentando crescimento acima da média da C&A,” escreveu a analista Danniela Eiger, da XP.
Para Danniela, o momento deve continuar sendo positivo para o setor de moda como um todo.
A ação da C&A sobe 119% nos últimos 12 meses. A empresa vale R$ 3,9 bilhões na B3.
Mesmo caindo 12% hoje, a Guararapes sobe 58% no mesmo período e vale R$ 4,2 bilhões.
A Renner tem alta de 36,9% em doze meses e um market cap de R$ 17,3 bilhões.
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