Endowment da UFRJ quer R$ 30 milhões para escalar bolsas para cotistas

Nota do editor: só o brasileiro vai salvar o Brasil. Não vai ser Brasília não.

Quando era aluno de engenharia da UFRJ em 2006, Daniel Spilberg conseguiu uma bolsa do Governo para um intercâmbio na França. 

Cinco anos depois — e já trabalhando na Bahia Asset — Daniel resolveu devolver a oportunidade que teve: financiou uma bolsa para outro aluno da UFRJ estudar na Itália. Era Raphael Sodero, que hoje trabalha na Bain. Seis anos depois, foi a vez de Raphael bancar a viagem de Henrique Duarte para Portugal.

Esse ‘paying it forward’ foi o pontapé inicial para os três criarem o Reditus, um endowment ligado aos cursos de engenharia e ciência da computação da UFRJ. 

“Aquilo era uma iniciativa muito legal mas era difícil de  escalar,” Henrique disse ao Brazil Journal. “Por isso, começamos a pensar em coisas que tivessem um impacto maior.”

O seed money para fundar a Reditus partiu do bolso dos três, que depois foram bater na porta de Carlos Brito — o ex-CEO da Anheuser-Busch Inbev e outro ex-aluno — para convidá-lo a ser o primeiro grande doador. 

Brito topou, e o endowment deu a largada com R$ 3 milhões em 2020. Hoje já são R$ 14 milhões — um número ainda pequeno para a ambição dos fundadores.

Agora, o Reditus está em meio a uma campanha para dobrar o tamanho do fundo até o final do ano. Por enquanto já foram arrecadados R$ 3,5 milhões, principalmente com conselheiros como o fundador da VTEX, Geraldo Thomaz; o chairman da Valid, Sidney Levy; e Bruno Pandolfi, sócio da SPX. 

Com mais recursos, o endowment da UFRJ quer ampliar dois projetos lançados nos últimos anos – e criar novos. 

O primeiro é o financiamento a projetos de pesquisa de estudantes e professores ligados a quatro eixos: inovação, pesquisa científica, extensão e diversidade. Até agora, o Reditus já financiou 50 projetos.

O segundo é a concessão de bolsas e mentorias a cotistas da universidade, que representam mais da metade de todos os alunos da UFRJ.

“Esses alunos têm que correr muito mais e estudar muito mais que os outros para conseguir se manter na universidade. Por isso, decidimos ajudá-los com uma bolsa de R$ 800 por mês e com a mentoria de um cotista recém-formado e de um profissional ou empresário reconhecido,” disse Henrique. 

Segundo ele, o Reditus fez uma pesquisa com 150 alunos da universidade e percebeu que havia uma discrepância entre as respostas dos cotistas e dos não-cotistas.

Enquanto 80% dos cotistas têm que ter um trabalho em paralelo, apenas 15% dos não-cotistas trabalham ao mesmo tempo em que cursam a faculdade. Três-quartos dos cotistas também disseram ter dificuldade de arcar com as despesas básicas do curso, como transporte, comida e material, e muitos reportam dificuldades para acompanhar as matérias. 

“Em termos de abandono do curso, os números são similares, mas os motivos são muito diferentes. Os cotistas abandonam porque não têm condições de se manter. Os não-cotistas porque não se encontraram naquele curso.”

A bolsa foi lançada ano passado, e o Reditus já ajudou 16 alunos. Este ano, com o crescimento dos recursos do fundo, o objetivo é ajudar outros 20 estudantes. 

Outro plano é criar um programa de intercâmbio para os alunos, voltando à origem do endowment; e lançar um programa de investimento-anjo que financie startups criadas por alunos e ex-alunos da universidade.

Por enquanto, os recursos ainda são escassos. Como o endowment só pode investir o rendimento do dinheiro captado, para garantir a perenidade do veículo, o Reditus tem hoje cerca de R$ 800 mil em recursos disponíveis por ano, considerando um rendimento real de cerca de 5% ao ano. 

Esses recursos, no entanto, tendem a crescer de forma exponencial conforme as novas gerações beneficiadas pelo endowment passem a doar para o fundo. 

Geraldo Thomaz, o cofundador da VTEX e maior doador do Reditus hoje, disse que foi justamente a perenidade e o ciclo virtuoso e exponencial do projeto que o atraíram

“Cada nova geração tem muito mais incentivo que a anterior para doar e fazer o endowment crescer,” disse ele. “A gente beneficia uma geração que depois vai ajudar a próxima. É um jogo de credibilidade.” 

Geraldo notou ainda que a filantropia não é algo trivial de se fazer, e que o endowment é um ótimo veículo para fazer doações. 

“Tem muita gente que gasta a velhice inteira pensando onde alocar seus recursos em filantropia de forma eficiente, que gere o maior impacto possível,” disse ele. “Com o endowment, acho que vou conseguir fazer isso.” 

O Reditus é hoje o terceiro maior endowment de universidades do Brasil, atrás apenas do Amigos da Poli, com R$ 50 milhões, e do Sempre SanFran (da Faculdade de Direito da USP), que tem ativos de R$ 18,5 milhões. O quarto maior é o Sempre FEA, com R$ 10 milhões. 

O mercado brasileiro vem crescendo, mas ainda está longe dos EUA, onde diversos endowments de universidades têm dezenas de bilhões de dólares em recursos, tornando-se uma fonte importante de recursos para o orçamento anual das universidades. 

 

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