Mais um endowment está nascendo numa universidade pública brasileira – reforçando um movimento que começou há mais de uma década com o Amigos da Poli e criando mais uma ponte entre o setor privado e as carências da educação pública.
Ex-alunos da faculdade de administração da UFRGS – a “urgs”, para os íntimos – acabam de levantar R$ 1,6 milhão para o Fundo Amanhã, que nasce com cheques de 13 doadores-fundadores.
A lista inclui empresários como Frederico Gerdau, William Ling, Mathias Renner, Deborah Mocher e Pedro Englert, o fundador da StartSe.
A meta do Fundo Amanhã vai atrair os céticos: os fundadores querem chegar a R$ 40 milhões já nos próximos 12 meses – pouco mais do que o Amigos da Poli tem hoje, depois de dez anos de estrada.
Luan Spencer, um dos fundadores, disse ao Brazil Journal que o endowment vai ter um executivo full-time na operação – e uma estratégia de captação diferente.
“Nesse primeiro momento, vamos queimar o quanto for necessário do R$ 1,6 milhão para executar muito bem os primeiros projetos,” disse Luan. “Depois de 12 meses, vamos mostrar os resultados aos nossos doadores para já captar os R$ 40 mi e aí assim começar a operar como um endowment mesmo, só investindo os rendimentos.”
Os primeiros projetos do Fundo Amanhã se encaixam em quatro categorias: desenvolvimento e capacitação; infraestrutura; reconhecimento acadêmico; e interação com o mercado.
O endowment vai criar, por exemplo, uma premiação para o melhor TCC da faculdade de administração, abrir um centro de carreiras que vai dar mentoria, cursos e eventos, e manter um banco de talentos onde os alunos poderão cadastrar o currículo.
Outro projeto é criar um centro de dados e analytics que terá um nome bem gaúcho: BAH (Business Analytics Hub).
“Esse centro vai apoiar pesquisas que já estão rolando na universidade, mas também será um espaço para atrair empresas e startups, com os alunos fazendo projetos aplicados,” disse Guilherme Camboim, o outro fundador.
Os fundadores dizem haver uma abertura cada vez maior das universidades públicas em relação aos endowments.
“Existe ainda uma resistência, alguns professores e alunos que são contra,” disse Luan. “Mas tem uma pressão grande por falta de verba das universidades, então eles têm cedido mais. Além disso, temos mostrado para eles que não vamos mudar a fonte de recursos, que não se trata de privatizar a universidade, mas de ser uma fonte complementar que vai ajudar a investir em pesquisa, desenvolvimento e na infraestrutura.”
O Fundo Amanhã é o segundo endowment da UFRGS. Em 2019, ex-alunos da engenharia criaram o Fundo Centenário, que tem cerca de R$ 1,5 milhão captados.
O Centenário direciona seus esforços principalmente para duas ações: apoiar projetos de pesquisa, inovação e ensino e dar bolsas a estudantes carentes que de outra forma teriam que trabalhar e estudar ao mesmo tempo, afetando seu desempenho.
As bolsas são ao redor de R$ 1 mil por mês, e o programa já ajudou 20 alunos diferentes.
“Damos essas bolsas por um ano e depois acompanhamos se o aluno está indo bem, com um bom desempenho nas matérias, para renovar,” disse Claudio Berquo, o chairman do Fundo Centenário e sócio do BTG.
“É impressionante a diferença que mesmo uma ação pequena dessas faz. Fizemos um painel outro dia com duas bolsistas da engenharia física, e elas ficaram emocionadas falando de como aqueles mil reais estão ajudando… e as duas são as primeiras da classe.”
Segundo Claudio, o objetivo do Centenário é chegar a R$ 5 milhões até o final deste ano, com uma estratégia de captação mais pulverizada – pegando doações pequenas de vários doadores diferentes em vez de cheques grandes de poucos.
Para William Ling, um dos doadores-âncora do Fundo Amanhã, mais do que o tamanho dos fundos (que ainda são pequenos), “o grande mérito disso tudo é o efeito da mudança de cultura.”
“Isso está gerando uma mudança de atitude das pessoas que se deram bem na vida pela educação que tiveram, e que agora estão vendo que dá pra fazer o mesmo pelos outros.”
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