Ciclo pecuário está virando nos EUA, diz CFO da Minerva

A oferta de boi barato – que tem gerado uma fortuna para a indústria de proteína nos EUA nos últimos anos – está prestes a contrair, expondo os players brasileiros com operação no País.

A previsão de uma virada no ciclo pecuário a partir do fim deste ano foi feita ontem pelo CFO da Minerva Foods, Edison Ticle, numa teleconferência com investidores do Morgan Stanley. O papel da companhia fechou o dia em alta de 2,2%.

[Glossário para quem nunca pisou num esterco: O ciclo pecuário é marcado por períodos em que o criador retém as fêmeas para produzir bezerros – tentando aproveitar os preços do boi – e, em seguida, por um período de muita oferta que começa a pressionar os preços para baixo, incentivando o produtor a abater as fêmeas.]

O Departamento de Agricultura estima que a produção de carne nos EUA terá uma queda entre 7% e 10% no ano que vem, causada pela diminuição na oferta de animais.  “Isso vai aumentar o preço dos animais, que é 80% do custo, num momento em que já está difícil repassar a pressão de custos para o consumidor,” disse Edison, segundo investidores que participaram da reunião 

Nos últimos anos, o preço do animal caiu nos EUA, enquanto o preço da carne subiu para o consumidor, gerando margens suculentas para players como a JBS e a National Beef, controlada pela Marfrig.

“As margens já estão piorando lá e vão piorar ainda mais,” disse Edison, segundo os investidores presentes.

Dos dois players brasileiros mais expostos ao EUA, o mais sensível é a Marfrig, por estar mais concentrada nos EUA, enquanto a JBS é mais diversificada.

Outro vento contra: o Governo americano está tomando medidas contra o que enxerga como um cartel no mercado de carne. Cargill, Tyson, JBS e National Beef respondem por 85% da carne bovina produzida nos EUA.

Ao mesmo tempo em que o economics da indústria piora nos EUA, a oferta de gado está prestes a aumentar no Brasil.

Edison disse que o Governo brasileiro está empenhado em aumentar as exportações de carne bovina aos EUA, o que beneficiaria diretamente a Minerva.

“O Brasil precisa sair da cota de ‘others’ e passar a ter uma cota só sua. A Nicarágua acabou de conseguir isso.” 

A cota permite que o País exporte sem tarifa na entrada nos EUA; o que é vendido acima da cota é taxado em 26%.

“Mas hoje o diferencial de preço está tão grande que os importadores estão topando pagar a tarifa e ainda assim faz sentido,” disse o CFO.

Segundo Edison, os cortes industriais – usados para fazer hambúrguer e salsicha – feitos nos EUA custam de 40% a 45% a mais que o produto importado. “Tem produto que lá custa US$ 4,500 a tonelada. O mesmo produto sai do Brasil a US$ 3.000.  O cara paga os 26% e o preço vai para US$ 3.900, ainda assim é vantajoso.” 

Nos últimos 30 dias, a ação da Marfrig cai 20% e a JBS, 6%, enquanto a Minerva sobe 2%.  Desde o início do ano, Minerva sobe 28%, enquanto Marfrig cai 31% e a JBS perde 3%.  A performance da Marfrig sofre o impacto da situação da BRF.

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