Em águas brasileiras ou internacionais, os cruzeiros temáticos têm sido uma aposta cada vez maior das operadoras e empresas de turismo.
É possível embarcar em navios embalados para o pop rock dos 80s ou para os fãs de Star Wars. Existem viagens fitness ou centradas na gastronomia e as edições focadas em um ídolo como Roberto Carlos. E, neste ano, em novembro, vai zarpar, a partir de Tampa, na Flórida, o primeiro cruzeiro feito para tutores e seus cães.
O Tails of the Sea Voyage é organizado por três empresas: Cruise Tails, Expedia Cruises of West Orlando e Margaritaville at Sea. A viagem está programada com festas, spa, massagens, piqueniques a bordo, coquetéis tropicais para os humanos, brunchs para os pets e passeios terrestres.
O cruzeiro preparou 250 cabines com varanda para receber os cachorros e suas famílias. Para garantir a saúde, a diversão e o conforto dos cães, há uma equipe dedicada a eles, de veterinários a groomers (tosadores). Entre os funcionários estão os pet butlers, os mordomos encarregados de zelar pelos cuidados das cabines e dos hóspedes de quatro patas.
Os preços variam de US$ 1.700 (valor por pessoa em acomodação na parte interna) a US$ 3.550 (na cabine premium com a maior varanda). Há um custo extra de US$ 1.500 por cachorro para bancar o staff exclusivo e outros preparativos, como a instalação das “estações de alívio”, estruturas montadas nas varandas para que o bicho possa fazer suas necessidades.
Mas, atenção: a regra é um pet por cabine. Quem quiser viajar com dois, terá de fazer mais uma reserva, se for um dos admitidos a bordo. É isso mesmo: os cães – e seus tutores – serão selecionados. Serão permitidos apenas cachorros pequenos, de até nove quilos e medindo até 45 centímetros.
As aplicações foram abertas em dezembro. Nenhuma veio do Brasil, até o momento, afirma Steve Matzke, o Chief Relationship Officer (CRO) da Cruise Tails e capitão do cruzeiro. Já vieram pedidos da Alemanha, Inglaterra e França. Após a seleção, será montada uma lista de espera.
A viagem será num navio de 292 metros de comprimento, o Margaritaville at Sea Islander. O cruzeiro parte no dia 18 de novembro, tem duração de sete dias e no itinerário estão os portos de Key West, Progreso (cidade mexicana da Península de Yucatán) e Cozumel. Além de serem destinos turísticos, esses lugares permitem desembarque de cães. É possível, porém, que haja alterações de portos, avisam os organizadores, acrescentando que isso faz parte do processo.
Proof of concept
Por ser o primeiro do gênero, o Cruise Tails informa que há algumas restrições na viagem já que eles são proof of concept. Em tese, precisam provar que a proposta de cruzeiro para pets dá certo. Mas a empresa revela que já tem o segundo em planejamento, entre março e maio de 2026. Matzke espera que venham outros mais, inclusive algum que inclua cachorros maiores.
Sobre as restrições, além da limitação de tamanho, existe uma que talvez aborreça tutores. As salas de refeições são apenas para humanos, por determinação sanitária. Quem quiser comer junto a seu pet, terá como opções áreas externas de piquenique, a própria cabine e um espaço reservado para os cachorros chamado Brunch Bark and Bubbles. O tutor deve levar a alimentação de seu companheiro, bem como seus brinquedos. E haverá uma pet shop no navio.
Para circular pelos ambientes públicos, os cães devem usar coleiras, exceto nas áreas liberadas para a diversão, como a que tem splashes de água para o bicho brincar. E estão previstos desfiles e concursos.
Se a família jantar no salão, o cachorro deverá ficar em uma caixa, como as de transporte, no quarto ou ser levado para a creche, onde será monitorado por pet sitters. Outro profissional para ajudar os tutores é o dog walker.
E se cão passar mal? Eles também sofrem de enjoo no mar? A resposta é sim, podem enjoar. Um time liderado pelas médicas veterinárias Brooke Certa e Nia Rametta, da Coastal Animal Clinic, de Tampa, estará a bordo.
Para os humanos, fora a programação típica de cruzeiro – como jogar num cassino, em que os cães não terão acesso –, serão oferecidas palestras sobre a relação entre tutores e cachorros, orientações sobre adestramento, e até aulas ensinando refeições saudáveis para seus companheiros peludos.
Normalizando viagens com pets
A ideia do cruzeiro nasceu de uma conversa entre Matzke e Dawn von Graff, dona de uma franquia da Expedia Cruises em West Orlando. Durante um jantar, ele comentou que relutava em fazer uma viagem longa por causa de seu cão, Louie. Dawn, por sua vez, disse que a agência vinha recebendo um número cada vez maior de clientes querendo viagens com o pet, o que era impossível.
“Naquele jantar, o sonho de normalizar as viagens com animais de estimação começou”, contou Matzke. Os sócios do projeto consultaram veterinários, treinadores de cães e profissionais de petcare, entre outros especialistas. Um dos experts acionados foi Patrick Flynn, veterinário que preside a entidade Human Animal Bond Association e é mestre em antrozoologia, campo que estuda a relação entre humanos e animais.
Perguntado a Matzke como visualiza um dia perfeito no cruzeiro, a resposta começa com um café da manhã na cabine, com a família toda reunida. Depois, passeios no deck. Em seguida, é hora de levar o pet para experimentar uma fantasia para a festa da noite. Mais tarde, sessão de tosa e beleza, enquanto o tutor faz uma aula de puppy pilates.
Matzke prossegue, imaginando a chegada em Progreso: há um passeio pela cidade em ônibus aberto. Então, vem o momento da praia, onde há uma tenda para os viajantes. “Será a primeira vez que um grupo de pets desembarca no México. Estamos pisando em novos territórios, literalmente”, entusiasma-se o capitão. De volta ao barco, diversão para os cães e palestras para os humanos. À noite, jantar gourmet para os tutores. Os animais estão na creche. Eles se reúnem e vão para a cabine. Lá, o pet butler deixou um petisco para o hóspede. E ainda tem a fantasia. Porque a noite é de festa dos anos 80.
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