OPINIÃO. Nos mercados emergentes, razões para um otimismo crescente

Os mercados emergentes tiveram um desempenho substancialmente inferior aos mercados desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, desde a crise financeira global de 2008. No entanto, acreditamos que essa subperformance pode estar mudando, e que investir nos emergentes pode oferecer importantes benefícios de diversificação e oportunidades de retorno.

O desempenho inferior histórico reflete vários fatores, incluindo disparidades no crescimento econômico; políticas monetárias mais favoráveis nos EUA (incluindo o quantitative easing); um dólar mais forte apesar daquela política monetária; volatilidade nos preços das commodities, aliada a um período de altos investimentos de capital; e riscos geopolíticos (e outros) elevados. 

Como resultado, os investidores reduziram suas alocações em mercados emergentes a níveis próximos dos mínimos históricos, permanecendo subinvestidos nestes mercados e com uma exposição desproporcional a ações dos EUA. 

Embora a disposição global de investir em ações dos emergentes ainda esteja morna, o cenário agora parece encorajador para esta classe de ativos por vários motivos.

Melhora do prêmio de crescimento econômico

Os mercados emergentes, na média, apresentam taxas de crescimento econômico mais altas em comparação com os mercados desenvolvidos, mas seu prêmio de crescimento varia ao longo do tempo. 

Depois de atingir um ponto baixo durante a pandemia, o prêmio de crescimento econômico melhorou, à medida que o crescimento nos emergentes está acelerando enquanto o dos desenvolvidos desacelera. 

O crescimento real do PIB dos emergentes, além disso, não é impulsionado apenas pela China; países como Índia, Filipinas e Indonésia devem crescer entre 5% e 7% este ano.

Reaceleração do crescimento dos lucros

Os lucros seguem um padrão semelhante ao do crescimento econômico relativo: após uma forte queda em 2021 e 2022, as expectativas de crescimento dos lucros nos mercados emergentes subiram e estão projetadas para superar as dos mercados desenvolvidos, incluindo os EUA, este ano e no próximo. 

Historicamente, um crescimento mais forte dos lucros tem impulsionado uma outperformance dos mercados emergentes sobre os desenvolvidos.

Uma aceleração no momentum dos lucros dos emergentes pode ser um vento de cauda para a performance relativa. Porém, fatores geopolíticos no Oriente Médio, na Rússia e na Ucrânia e no mar do Sul da China podem atuar como ventos contrários.

Valuations atraentes

Os valuations das empresas nos mercados emergentes continuam atrativos em comparação às ações dos mercados desenvolvidos. 

Embora os níveis absolutos de valuation tenham subido desde as mínimas do quarto tri do ano passado, os valuations relativos ainda sugerem um potencial de valorização.

Com base no múltiplo preço-lucro projetado, os emergentes estão sendo negociados a 12,6x, em comparação com 18,9x para os mercados desenvolvidos (índice MSCI World) e 21,6x para os EUA. 

Olhando os últimos 20 anos, o desconto médio dos emergentes em relação aos mercados desenvolvidos e às ações dos EUA é de, respectivamente, 21% e 25%, mas os descontos atuais ultrapassam 30% e 40%.

Com o tempo, esses descontos podem diminuir devido ao crescimento mais forte dos lucros nos emergentes, à recuperação da rentabilidade (que já está em curso em vários mercados e setores), ao free cash flow atrativo e os dividend yields, além de um prêmio crescente no crescimento econômico a favor dos emergentes. 

Isso representa uma oportunidade para os investidores entrarem nesses mercados a preços mais baixos, potencialmente gerando retornos maiores com a valorização dos ativos.

Afrouxamento monetário global

O efeito da taxa de câmbio também pode favorecer as ações dos emergentes, embora isso dependa, em parte, da política nos Estados Unidos. 

Um enfraquecimento do dólar, como ocorreu entre 2016 e 2018, pode apoiar ainda mais as perspectivas de crescimento dos lucros nos mercados emergentes.

O ciclo de afrouxamento do Federal Reserve, que começou com o primeiro corte em 18 de setembro, deve criar um ambiente mais favorável para os ativos dos emergentes por meio de uma moderação na força do dólar.

Historicamente, os ativos dos emergentes tiveram alguns dos seus melhores anos de outperformance após os picos da Fed Funds (a taxa básica de juros dos EUA) e robustos retornos ajustados ao risco após o início dos ciclos globais de cortes de juros. 

Um fator complicador, no entanto, é que tarifas substanciais nos EUA podem fortalecer o dólar, e o ritmo do afrouxamento do Fed pode ser afetado por dinâmicas inflacionárias influenciadas por mudanças nas políticas tarifárias, fiscais e migratórias.

Tendências demográficas de longo prazo

Os mercados desenvolvidos enfrentam o envelhecimento das suas populações e uma queda no número de participantes em idade ativa, enquanto os emergentes geralmente possuem uma vantagem demográfica, com populações jovens maiores e menores taxas de dependência. 

Por exemplo, quase 80% da população da Índia tem menos de 50 anos, posicionando o país para se beneficiar de um dividendo demográfico.

Diversificação em relação à bolsa americana

Além do potencial de retornos mais promissores no futuro, investidores que buscam diversificar seus portfólios entre diferentes economias e regiões, protegendo-se contra o risco de desvalorização das ações nos EUA, podem considerar adicionar ações de mercados emergentes aos seus portfólios. 

Os mercados emergentes podem oferecer exposição a novas indústrias e setores, como desenvolvimento de infraestrutura, aumento do consumo doméstico e crescimento das exportações, que podem estar sub-representados ou indisponíveis nos mercados desenvolvidos.

Baixo posicionamento de investidores

Os mercados emergentes continuam sendo uma classe de ativos subinvestida. Um retorno à alocação média de 8,4% dos portfólios globais nos últimos 20 anos representaria fluxos de entrada de US$ 910 bilhões, ou cerca de 58% dos atuais ativos sob gestão dos mercados emergentes.

Conclusão

Vários fatores sugerem que as ações dos mercados emergentes podem se tornar mais atraentes daqui para frente em comparação com os últimos 15 anos. 

Apesar dos potenciais benefícios, investir em emergentes pode ser arriscado (risco político e regulatório, cambial, de liquidez e de governança corporativa). 

Para muitos investidores, uma abordagem ativa pode ser a melhor estratégia para investir nessa classe de ativos.

Peter Orszag é o CEO da Lazard. James Donald é um portfolio manager na Lazard Asset Management, e David Jauregui é o diretor da área de mercados emergentes da gestora.

Este artigo foi publicado originalmente no Linkedin.

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